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segunda-feira, novembro 29, 2004

Ironman muito se fala poucos conhecem

Junho de 2003 eu e João Paulo começamos a treinar juntos para a meia maratona, porém sempre com um objetivo esportivo maior do que aquilo, todas as nossas conversas acabam com a mesma frase: um dia vamos fazer um ironman... e essa frase continuou em nossas cabeças pr meses, até que um dia de maneira inusitada (durante uma noitada, com muita vodka na mente) resolvemos fazer o Ironman 2004.

Passou-se 1 mês até que demos o pontapé inicial, procuramos o Walter meu amigo e técnico antigamente, e levamos a tira colo outro louco: Serginho.

1º de Fevereiro - compramos bicicletas, tênis, rodas, roupas e enfiamos as caras nos treinos, cada um dentro das suas possibilidades... No primeiro treino de estrada caiu a ficha.. tínhamos pedalado apenas 80 km e estávamos mortos, acabados, faltando pouco mais de 3 meses para o Ironman... mas não desistimos, estávamos inscritos e tínhamos certeza de que iríamos completar, nosso referencial??? Alicia, indo para seu 2º Ironman, e ajudando de todas as formas possíveis...
Os treinos aumentaram, as dores, as contusões vieram, as dificuldades mudaram, deixou de ser a distância e passou a ser a velocidade.

Esta foi perseguida até a 4ª feira anterior ao sábado da prova, quando tudo isso ficou de lado e a emoção tomou conta, estávamos em Florianópolis, entre os melhores atletas do país, à 4 dias do nosso primeiro Ironman.

Neste momento viramos crianças em seu primeiro dia de escola, tudo é misterioso, desconhecido, somos um nada no meio de muitos, apenas mais um....
Deixamos tudo no hotel, e vamos para a feira, vamos de bike, achando que tínhamos uma bike até nos depararmos com algo fora do comum, bicicletas de sonhos, onde a língua predominante não é o português, ou o inglês, a língua, é IRONMAN.

Todos ali presentes falam a mesma língua, respiram as mesmas coisas, se respeitam, se entendem por gestos e olhares, todos sabem o que representa estar ali, afinal a atmosfera é diferente, o ar é mais leve, as cores são mais fortes, as emoções mais evidentes.

Ficamos neste ambiente de 4ª até sábado as 5 da manhã, quando estamos tomando o nosso café antes da prova, todos alegres e concentrados, o frio é assustador, mas o sol sobe no horizonte.

Vamos para a prova e chegando lá a emoção aumenta, nos despedimos dos amigos e do tio Walter, engolimos as lágrimas, de medo e de orgulho, colocamos os óculos e esperamos a buzina, é dada a largada e partimos para a natação, a parte mais curta e mais leve, é a entrada, o começo de uma guerra física e principalmente psicológica.

Saio da água em primeiro alguns minutos depois vem o João e muitos minutos depois o Serginho, partimos pro pedal, cada um com uma coisa na cabeça e a emoção tomou conta da minha.

Estava bem na prova e forcei demais, com 90 km de pedal já sentia as conseqüências, a cabeça e o corpo já não eram mais um só, mesmo com o sol, o calor do público, me deixo abater pela dor, diminuo o ritmo drasticamente para completar o pedal, acabo o pedal 10 minutos na frente do Serginho e muitos outros na frente do João que teve problemas com a bicicleta, ao sair da bicicleta não sinto meu pé, tenho dificuldades para andar, bate um desespero só em pensar que ao invés de andar eu tenho que correr por 42 km.

O Walter diz: “corre 3 km anda 1 km” mas com apenas 1,5 km já estou andando, e vou me arrastando, pensando em tudo que abri mão para estar ali, em todas as esperanças que meus pais e amigos depositaram em mim, e começo a correr novamente, mas não adianta, a cabeça me diz para andar ou não chegarei ao final.


As dores são inúmeras e o analgésico que eu tinha levado; perdi... Sigo assim e no km 10 o Serginho me passa correndo como uma gazela e isso me derruba ainda mais, até que no km 21 vem o golpe de misericórdia, passa o João correndo forte enquanto eu ando.

Alguns km depois, tomo um analgésico e minha cabeça me diz que posso correr e além dela um venezuelano me diz a mesma coisa, Raul era seu nome.

Seguimos juntos, correndo em ritmo forte os últimos 12 km, ele também estava fazendo sua estréia na distância, chegamos juntos, no sprint, com a galera em pé a quase 12 horas, gritando, chorando de emoção e com uma certeza apenas: SOMOS IRONMANS.

Abraço aquele que acreditou em nós e nos deu todo suporte, Tio Walter e falo com meus pais, que mesmo longe choram ininterruptamente, agradeço a todos e saio com a certeza de que daqui a 12 meses estaremos de volta. (Gustavinho)




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