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quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Artigos Swim It Up!

Morte súbita e o exame médico pré-participação no esporte
Dr. Marcus Bernhoeft

Este é um dos assuntos mais importante e complexo. Como a ciência aplicada à saúde vê este assunto até o momento?
É historicamente reconhecido que a vida fisicamente ativa faz parte do ser humano. A prática da atividade física para ganhar e manter qualidade de vida física e mental, desde a infância até a vida adulta, é vital para a preservação da espécie.
Algumas pessoas se utilizam da prática desportiva com propósitos para melhora da performance, seja para manter-se em forma, com propósitos de competir amadorística ou profissionalmente, voltada para o alto rendimento.
Uma das maiores preocupações que a sociedade se defronte na atualidade diz respeito ao aumento dramático da incidência das doenças crônicas da era moderna, sob a denominação de doença degenerativa, metabólica ou fatores de risco.
Alguns pesquisadores afirmam que a guerra contra as doenças crônicas da era moderna está sendo perdida pela forma equivocada no combate a esta epidemia. A tecnologia biomédica atual utilizada ainda está mais voltada para o combate aos problemas clínicos da saúde pública (prevenção secundária e terciária).
Argumenta-se que enquanto a ciência não combater as raízes desta condição, o combate a esta epidemia continuará fadada ao insucesso com sérios riscos para o futuro da espécie.
Existe uma forte associação entre o aumento da inatividade física e o aumento da incidência das doenças crônicas.
Até o momento a ciência, através de pesquisas por biologistas do exercício, tem dado ênfase ao estudo dos efeitos do reinício do exercício em populações sedentárias não saudáveis que geneticamente estão programados para a atividade física (intervenção secundária e terciária).
Com base na função do gene saudável, as pesquisas do exercício deveriam ser vistas através da perspectiva de que o grupo controle deve ser de populações fisicamente ativas e não de populações sedentárias com predisposição as doenças crônicas da era moderna (prevenção primária).
Pesquisas indicam que a avaliação médica tem valor na detecção de condições médicas, lesões (músculo esquelética) e fatores comportamentais (drogas, fumo, etc.) que possam afetar o desempenho e a saúde do atleta que está iniciando no esporte competitivo.
A avaliação médica consiste em exame médico (clínico), fisiológico (capacidade funcional) e laboratorial e, sua complexidade na avaliação varia em função das condições e recursos da instituição (equipe profissional, equipamento etc.), modalidade, faixa etária, etc.
Historicamente, o propósito da avaliação médica da pré-participação física é detectar condições físicas que possam desqualificar e/ou reabilitar um atleta de competições, com intuito de maximizar a prevenção com respeito a lesões e as causas de morte súbita no esporte (aquisição de normas através da Sociedade Regional, Nacional e Internacional de Medicina do Esporte).
A morte súbita em atletas considerados saudáveis é rara. Ragosta, M. (Méd. Sci. Sport. Exerc. 1984; 16(4): 339) estimou em 01 morte por ano para 280.000 atletas recreativos. Van Camp, SP. (Méd. Sci. Sport. Méd. 1995; 27(5): 641) estimou 01 morte para 300.000 atletas colegiais, ou pouco menos de 10 mortes por ano. Maron BJ. (J. Am. Coll. Cardiol. 1998; 32(7): 1881) estimou uma incidência de 01 morte súbita cardíaca em 217.400 atletas por ano.
Duas são as prováveis causas atribuídas à morte súbita cardíaca em atletas competitivos. A primeira causa, que pode não ser a mais prevalente, são as miocardiopatia hipertrófica, anomalias da artéria coronária, doença da artéria coronária ruptura e estenose da aorta, miocardite arritmia do ventricular, etc.
A segunda causa, uma prática muito em voga nos últimos anos pela utilização de drogas por atletas profissionais e de academia pelos mais diversos motivos.
A efedrina é um dos suplementos muito utilizados com finalidade de perda de peso e melhora de performance. É derivada da planta ma huang, que é uma amina simpaticomimética. Sua vida media é de 7 horas. Atua no cérebro e coração como estimulante, aumentando a freqüência cardíaca e resistência periférica dos vasos, elevando a pressão sanguínea. O uso sistemático da efedrina leva a hipertrofia cardíaca e necrose focal do miocárdio. Casos de arritmia são secundárias aos efeitos adrenergicos da efedrina.
Perrotta DM. (JAMA, 1996; 276(21): 1711) reportou que a efedrina estava ligada a mais de 500 casos de efeitos colaterais, incluindo 15 casos fatais – metade atribuída à miocardite e acidente vascular cerebral.
A associação de cafeína exacerba a resposta fisiopatológica da efedrina. O uso desta associação como agente ergogênico para aumentar o desempenho é suportado por estudos fisiológicos (Bell DG Méd. Sci. Sports. Exerc. 2001; 33(8): 1399).
Outros efeitos colaterais relacionados à efedrina estão palpitações, ansiedade, tremores e agitação.
O reflexo da atividade física, pertinente ao ser humano, implica obrigatoriamente em mecanismos de adaptação que se constitui numa seqüência de estágios que a regulam; tensão física do organismo, adaptação, desadaptação (processo normal da adaptação, correspondente no atleta a fase de sobre treinamento) e readaptação. Cada estágio é caracterizado por alterações funcionais específicas e regulatórias e fornecimento de energia.
A adaptação é comum aos seres vivos e são responsáveis para tornar o organismo mais resistente às várias condições ambientais adversas. Correspondem a processos de ajuste adequado das unidades estrutural e funcional às condições ambientais.
O conhecimento dos vários processos de adaptação, durante o ciclo biológico da vida que vai desde a vida intra-uterina passando pela infância até chegar à vida adulta, no crescimento, desenvolvimento e maturidade, é um dos fenômenos mais marcantes que a espécie humana é submetida.
O estudo e monitoramento deste fenômeno são cruciais para prevenir que fatores ambientais externos interfiram num processo natural da variação da biologia humana. A interferência de fatores externos sobre este processo pode algumas vezes interferir no seu processo natural e ser danoso à saúde, algumas vezes letal. Este processo de adaptação natural pode também ser interpretado de forma equivocada como se possíveis fatores externos fossem os responsáveis pelos resultados desta adaptação natural.
O estudo da adaptação no esporte, seu mecanismo e regulação, deveriam ser considerados do ponto de vista multidisciplinar, crucial para a ciência do treinamento, grau de saúde e morbidade dos atletas.
O conceito de adaptação humana ao exercício é um dos mais importantes fundamentos metodológicos da teoria e prática do esporte. É chave na resolução nos problemas biomédicos específicos e pedagógicos relacionados com a preservação da saúde e no aumento da capacidade de trabalho durante o treinamento físico.
Considerando a adaptação como um fundamento fisiológico do treinamento, certos itens importantes deveriam ser enfatizados pela a fisiologia do esporte: o estabelecimento de parâmetros funcionais quantitativos para cada estágio da adaptação, determinação de parâmetros funcionais do organismo durante a adaptação compatível com os parâmetros de atividade mental e resistência imunológica e, capacidade de trabalho físico do atleta, compreensão dos efeitos adaptativos do sistema nervoso durante a adaptação ao exercício físico. A solução destes problemas é propício para a preservação da saúde e manutenção elevada da capacidade de trabalho de atletas submetidos às várias condições de sua atividade.
Não poderia deixar de citar, como exemplo de atletas, Rogério Romero e Gustavo Borges que, durante estes últimos anos muito gentilmente se deixaram ser avaliados e monitorados. Seus resultados demonstram uma impressionante estabilidade nos resultados estruturais e funcionais durante toda sua carreira, principalmente o atleta Rogério Romero, reflexo de um programa de treinamento “fisiológico” e cuidados com a saúde. Um exemplo para a futura geração de atletas.
O desenvolvimento prático da cultura física e esportiva requer a aplicação da fisiologia aplicada.
Resumindo, o conhecimento das mudanças durante o ciclo da vida da biologia humana é fundamental para um perfeito monitoramento dos vários processos da adaptação geral, seja no seu processo natural, seja submetido à interferência de condições externas ambientais. Portanto, o surgimento de problemas médicos é mais complexo do que se imagina e, seu diagnóstico exige muitas vezes uma investigação de sua origem.

Quero encerrar este artigo com as palavras do físico e fisiologista Italiano Alessandro Volta que disse em 1815;

“Nada é mais prático do que uma boa teoria”.

Dr. Marcus Bernhoeft
Diretor Médico CBDA




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